Virtual Realidade

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Location: Portugal

Friday, February 23, 2007

Virtual Realidade Parte 74


Eram quase 11 horas da manhã e, estando encaminhado o assunto com a Sara, Eduardo decidiu pôr-se a caminho de S. Pedro de Moel. Faria uma surpresa a Luísa aparecendo mais cedo do que ela esperava. Para não perder tempo na viagem, no caso de lhe dar a fome, abasteceu-se com uma sandes de queijo, uma maçã e um sumo.

Em casa, Luísa ouviu o som da campainha da porta e foi abrir.
─ Olá, tu por aqui?! Entra! Podias ter avisado que eu teria feito o almoço. ─ disse, surpreendida, ao ver a amiga acompanhada por um desconhecido, mais novo do que ela, com ar jovial e atraente, lançando-lhe, ao mesmo tempo, um olhar interrogativo.
─ Não te preocupes connosco. Passámos aqui perto e quis que conhecesses o Rui. ─ disse Cristina, olhando para o acompanhante.
─ É então o Rui, o amigo do Eduardo?! Muito prazer!
─ O prazer é todo meu! ─ respondeu o Rui, dando-lhe dois beijos no rosto que ela oferecia ao cumprimento. ─ Finalmente, conheço a Luísa! O meu amigo já me tinha falado de si, mas mentiu-me.
─ Mentiu?! ─ perguntou Luísa estupefacta porque não conhecia o jeito brincalhão do Rui.
─ Pois mentiu: disse-me que a Luísa era bonita e afinal é ainda mais. ─ respondeu o amigo do Eduardo com um sorriso largo e franco.
─ Ah, Obrigada! Mas entrem, entrem e fiquem à vontade!
─ Só um pouco porque viemos também convidar-te para almoçares connosco.
Os três foram entrando na casa enquanto Luísa respondia:
─ Ai sim?! Também tenho uma surpresa para vocês: o Eduardo ao início da tarde está cá e poderíamos jantar os quatro. O que acham da ideia? Mas sentem-se!
─ Que bom, assim ficamos todos a conhecer-nos!
─ Mas é uma excelente ideia! Até parece que combinámos tudo isto antecipadamente. ─ anuiu o Rui.
─ Mas vamos esperar por ele para almoçar? ─ indagou a Cristina.
─ Não que ele só chegará por volta das 3 horas.
─ Mas já cá devia estar! É um crime deixar uma mulher linda assim como a Luísa tanto tempo sozinha! Vou ter de lhe dizer duas coisas… ─ disse Rui a sorrir.
Luísa que em sua casa era uma mulher descontraída e sentindo que com o Rui podia estar à vontade, respondeu no mesmo tom:
─ Cristina, vê se seguras o teu Rui antes que ele se atire a mim!
Cristina não era ciumenta e sabia que a Luísa estava demasiado apaixonada pelo Eduardo para que aquela frase não tivesse sido proferida apenas por brincadeira.
Os três, envolvidos numa gargalhada geral, saíram para almoçar fora, num restaurante ali perto que ambas conheciam.
Ao chegarem ao restaurante escolheram uma mesa perto do grande vidro que dava o mar e as ementas não tardaram a aparecer pela mão de um empregado que servia as refeições.
─ Isto é uma terra fantástica! ─ declarou o Rui ─ acho que poderia passar aqui o resto da minha vida. Que vista maravilhosa!
O telemóvel de Rui tocou e este, identificando o número de quem lhe ligava, disse:
─ Olhem só! As surpresas não acabam hoje. Parece que todos nós, de algum modo, adivinhámos o que nos ia acontecer. ─ As duas mulheres olhavam-no admiradas e interrogavam-se sobre o que quereria aquilo dizer ─ Nem imaginam quem está aqui! ─ acrescentou apontando para o aparelho que tinha na mão.
─ Quem? ─ perguntaram as duas.
─ Precisamente aquele que nós esperávamos: o Eduardo! Deixem-me ouvir o que ele tem para dizer.
─ Eduardo?
─ Sim, sou eu!
─ Algum problema?
─ Nenhum! Vou a caminho de S. Pedro de Moel e precisei de parar na Marinha Grande para abastecer o carro. Enquanto esperava lembrei-me de te ligar. Está tudo bem contigo? Tu estás onde?
─ Sim, está tudo bem! ─ mentiu Rui ─ Estou em casa e tenho uma coisa importante para te dizer, mas segue viagem, que eu agora estou ocupado, e liga-me de novo quando chegares ao destino. Daqui a meia hora já terás chegado?
─ Em menos de vinte minutos chegarei lá! Tenciono almoçar com a Luísa, mas ela não conta comigo tão cedo. Vou fazer-lhe uma surpresa.
─ Fazes bem! Então depois não te esqueças de me ligar.
─ Ok! Vou arrancar que já tenho o carro abastecido. Um abraço!
─ Outro.
Rui desligou com uma enorme risada.
─ Então, amor?! ─ perguntou a Cristina; mas Luísa também estava desejosa de conhecer o teor daquele intrigante telefonema em que o Rui tinha mentido sobre o local onde se encontrava. ─ Porque é que disseste que estavas em casa?
─ Pois porquê? ─ reforçou a Luísa.
─ Calma, minhas senhoras! Eu já conto tudo! O que aconteceu foi que o Edu está já a menos de meia hora daqui e acho que podemos esperar para almoçarmos todos. Ele conta fazer uma surpresa à Luísa porque só era esperado por volta das três horas. Ora de repente lembrei-me de lhe pregarmos uma pequena partida.
─ Sim, seria fantástico almoçarmos os quatro, mas pregar-lhe uma partida como?! ─ quis saber a Luísa que já começava a perceber como era o Rui.
─ Nós é que vamos fazer-lhe a surpresa de nos encontrar os três aqui. ─ continuou o Rui
─ Por isso é que tu mentiste?! ─ perguntou a Cristina.
─ Pois, e também tinha de saber, sem ele desconfiar de nada, se estava perto por causa de esperarmos por ele para almoçar.
─ Que belo safado me saíste! ─ exclamou a Cristina a sorrir, beijando o amado com carinho.
─ Agora como vamos fazer para ele dar connosco? ─ perguntou a Luísa que começava a entrar na ideia.
─ O mais fácil é fazermos assim: ele vem da Marinha e só pode vir de uma rua. Então vamos esperá-lo os três na entrada de S. Pedro. ─ sugeriu o Rui
─ Mas era bom não perdermos esta mesa! ─ lembrou a Luísa.
─ Podemos deixá-la reservada para daqui a pouco e até escolher já os pratos para estarem preparados quando chegarmos. ─ sugeriu a Cristina.
─ Boa ideia! ─ concordou o Rui.
E os três, unidos naquele complot contra o Eduardo, fizeram tudo conforme tinham planeado e foram esperá-lo para junto da estátua de D. Dinis e da Rainha Santa Isabel, perto da rotunda, no limite do pinhal de Leiria, à entrada de S. Pedro de Moel. Pareciam três gaiatos divertidíssimos, tentando adivinhar a reacção do Eduardo quando os visse.
Naquela altura do ano o movimento de automóveis ali era pouco, porque a maioria das pessoas que tinham casa no local vinham apenas passar as férias na época do verão. As que viriam pelo Natal ainda não era o tempo de chegarem, mas mesmo assim estavam os três muito atentos ao tráfego que vinha pela estrada da Marinha Grande. Não podiam deixar escapar a presa!
Daí a pouco um Astra cinza-metalizado aparecia visível ao cimo da lomba que antecedia a rotunda onde eles esperavam e o Rui gritou:
─ Atenção meninas! É ele de certeza! Tu, Cristina, já sabes o que tens de fazer, mas só depois de eu confirmar e te dar o sinal de que é ele, ok?
─ Ok! ─ concordou a Cristina. ─ Vamos a isso.
Cristina afastou-se uma dúzia de metros, esperando a confirmação, enquanto os outros dois se escondiam atentos atrás do carro do Rui.
O automóvel aproximava-se lentamente, respeitando o limite de velocidade e, já a poucas dezenas de metros, Rui reconheceu que era o amigo que vinha. Soltou um assobio estridente, sinal combinado para a Cristina avançar um pouco na faixa de rodagem, com o polegar direito esticado e um sorriso antecipadamente ensaiado sob a orientação do Rui. Inclinando-se muito para a frente Cristina pedia boleia ao Eduardo que, vendo aquela bonita silhueta na estrada, meteu o pé ao travão fazendo menção de parar, mas, ao aproximar-se mais, notou que não era propriamente uma jovem e pensou que podia ser uma armadilha. Tirou o pé do travão e foi avançando com cautela olhando em volta para se certificar se ela não estaria acompanhada. Havia um carro suspeito um pouco afastado, mas parecia não ter ninguém dentro. Então Eduardo acabou por parar um pouco mais à frente do local onde a Cristina se encontrava e quando o Rui e a Luísa, temendo que ele se escapasse, já saltavam do esconderijo improvisado e lhe apareciam pela frente. A primeira reacção foi de receio, mas logo reconheceu que os dois assaltantes eram, nem mais nem menos, que o Rui e a Luísa. Por segundos ficou de boca escancarada sem saber o que dizer. Olhou pelo retrovisor e viu surgir, pela retaguarda a aproximar-se deles, a bela desconhecida que lhe tinha pedido boleia.
Então Eduardo entendeu tudo, saiu do carro, dirigiu-se ao amigo, e, fazendo o gesto de se atirar a ele para lhe dar um soco, disse:
─ Tu muito gostas de me pregar partidas! Um dia zango-me contigo, meu maroto!
Luísa e Cristina riam-se perdidamente.
─ Só queria que visses a tua cara quando percebeste que éramos nós! Não trocava esse momento por nenhum outro. ─ respondeu o Rui com uma sonora gargalhada.
Eduardo não lhe ligou e dirigiu-se a Luísa abraçando-a beijando-a apaixonadamente. Depois voltando-se para Cristina, que ninguém se lembrava de lhe apresentar, perguntou:
─ Alguém faz o favor de me apresentar esta linda senhora?


Continua...