Virtual Realidade

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Friday, March 16, 2007

Virtual Realidade Parte 77


Juan levou Emília a almoçar num restaurante na calle Pedro I, perto do campus universitário, onde sabia que se podia saborear um dos melhores chuletones a la brasa, de boi ou de vitela, da cidade navarra.
Entre os dois existia apenas uma grande camaradagem e nunca haviam nutrido um pelo outro mais do que simples amizade. Originários da mesma cidade argentina, Rosário, à beira do rio Paraná, trezentos quilómetros a noroeste da capital, Buenos Aires, tinham-se encontrado por um desses fortuitos acasos da vida ─ poucos dias depois de Emília ter chegado a Pamplona para estudar na faculdade de medicina ─ em que acabamos por concluir que afinal o mundo é tão pequeno que, por vezes o aumento da distância, no tempo e no espaço, faz aumentar, em vez de diminuir, as probabilidades de duas pessoas, nascidas no mesmo local, se conhecerem, finalmente, numa cidade distante. E essa coincidência não é tão rara como à primeira vista se poderia acreditar e, na ignorância das suas leis em que sempre estaremos, inventamos, muitas vezes, explicações místicas para ocorrência desses acasos.
Foi por causa de um saco de plástico de uma loja de Rosário que Emília transportava na rua quando Juan se cruzou com ela, que se conheceram.
De imediato, nasceu uma empatia entre os dois que depressa se transformou numa boa amizade, apesar da diferença de idades.
O almoço decorreu a relembrar as saudades que tinham do seu País e dos respectivos familiares. Para Emília, não fosse ter encontrado o Juan naquelas circunstâncias, tudo teria sido mais difícil, num país estranho e tão diferente do seu, apesar da língua.
Já aguardavam que lhes servissem o café, quando o telemóvel de Juan tocou:
─ Mariana?! ─ perguntou ao reconhecer o número.
─ Sim, sou eu. É para te dizer que arranjei outro namorado, que me convidou para almoçar fora.
─ Estás a brincar, amor?
─ Só em parte: estou a almoçar com o meu filho no Trujal e tu?
─ Estou com a minha conterrânea no Asador Iturrama. Se tínhamos combinado, almoçaríamos todos juntos.
─ Pois, foi pena, mas foi uma surpresa que o Francisco me fez.
─ Valle!
─ Bom almoço!
─ Para ti também! Um beijinho.
─ Outro.
─ Era a Mariana ─ explicou para Emília, quando desligaram.
─ Mariana?!
─ Sim, a mãe do meu amigo português. Ele vive cá com a mãe e estão, neste momento, a almoçar no Trujal.
─ Sei.
─ E a propósito, tenho uma novidade para te contar. ─ disse Juan com um sorriso e um brilho estranho no olhar, como ela nunca lhe tinha visto antes.
─ Não me digas que te apaixonaste! ─ disse Emília a brincar.
─ Assim não vale!
─ Como?!
─ Porque é que vocês, as mulheres, adivinham sempre tudo?
─ Foi isso, tu apaixonaste-te mesmo?
─ Pois foi!
─ E quem é a feliz contemplada?
─ Precisamente a Mariana.
Juan contou tudo o que sabia sobre Mariana, como tinha começado a gostar dela e a declaração que lhe havia feito na véspera.
─ E não devias estar com ela em vez de teres vindo almoçar comigo? Ela sabe?
─ Sim, eu contei-lhe. Quando sair daqui vou ter com ela. E depois tu és minha amiga e queria que soubesses tudo.
─ Obrigada! Estou contente por ti e desejo-te as maiores felicidades!
─ És um amor!
─ E o filho, já sabe?
─ Claro que sim!
─ E reagiu bem?
─ Eu não conheço ninguém como ele: deu-nos o maior apoio.
─ Os filhos não costumam gostar que as mães arranjem outros companheiros.
─ Nem que os pais arranjem outras companheiras, mas ele não é assim. Um dia levo-te a conhecê-lo e quem sabe…
─ Quem sabe o quê?
─ Ele não tem namorada.
─ Ah! ─ sorriu Emília ─ E tu estás a querer insinuar alguma coisa?
─ Nem por sombras! ─ exclamou Juan a rir.
─ Já percebi! ─ respondeu Emília com um sorriso enigmático.
─ Percebeste o quê?
─ Que a partir de agora vais ter companhia e prescindes da minha; mas como não me queres deixar sozinha…
─ Ora aí está um bom motivo para eu te apresentar o meu amigo. Confesso que nem me tinha passado pela cabeça, mas é uma excelente ideia! ­­─ interrompeu Juan, fingindo que dizia a verdade.
─ Só que esqueceste um pormenor... ─ lembrou Emília, levando aos lábios o último gole de café.
─ Como?!
─ Eu tenho namorado e gosto muito dele.
─ Claro, desculpa! Estava só a entrar contigo.
─ Eu bem te conheço! ─ riu Emília ─ Bom, então não faças esperar a tua amada, senão ainda vai desconfiar de nós.
─ Não vai. Queres ir lá comigo agora e já ficas a conhecê-los? O filho também deve estar em casa.
─ Iria de bom grado, mas assim, sem eles contarem, não é boa ideia. Além disso tenho umas coisas para estudar que amanhã é dia de aulas.
─ Tens razão. Vamos então?
Juan, acabou de tomar o seu café, pediu a conta, pagou e saíram. Depois de deixar Emília na residência dirigiu-se ao apartamento de Mariana.

Rita de tão absorvida em pesquisas na net e em conversas no MSN, onde, afinal, não tinha encontrado a mãe, nem deu pela chegada da colega.
─ Cheguei! Podia-se assaltar a casa que tu não darias por nada!
─ Ah, olá! Já chegaste?
─ Parece que sim ─ respondeu Emília olhando para si mesma como que a confirmar se estava toda ali presente.
─ Estava aqui absorvida...
─ Pois, pois! Isso vi eu!..
─ Não sejas mazinha! Estava apenas a pesquisar. E o teu amigo, fez-te uma declaração em forma? ─ perguntou Rita no gozo.
─ Fez mas não foi a mim.
─ Pois, deve ter sido à empregada do restaurante. ─ continuou Rita na brincadeira.
─ Não gozes comigo! Nunca houve nada entre mim e ele, nem iria haver. Eu vou-te contar…
Quando acabou de contar, Rita perguntou:
─ Não ficaste um pouquinho triste?
─ Eu?! Pelo contrário, fiquei até muito feliz por ele. ─ Na resposta de Emília havia a segurança da sinceridade. ─ É um bom amigo, mas, para eu me apaixonar por ele, só se não estivesse já apaixonada por outro.
─ Sim, tens o teu namorado, mas nunca se sabe! Às vezes as coisas acontecem. Mas desculpa ter brincado contigo!
─ Qual quê?! Nada a desculpar, amiga. Olha, vou estudar um pouco. Quem faz o jantar hoje?
─ Ainda agora vens de um bom almoço e já pensas em jantar?
As duas amigas envolveram-se numa estridente gargalhada.
─ Olha, um dia destes quero conhecer esses portugueses! ─ acrescentou Rita, logo que parou de rir. ─ Sendo as boas pessoas que dizes poderei matar saudades da pátria.
─ Bom, eu não os conheço. O que sei é o Juan que me conta.
─ Mas tu conhece-lo bem e confias nos juízos dele.
─ Plenamente!
─ Então vais conhecê-los e depois apresentas-mos.
─ Não seja por isso! Afinal são do teu país e acho que deves conhecê-los sim. Se me dás licença, agora vou ver se estudo um pouco.
Emília retirou-se e Rita foi ao IRC.

Continua...