Virtual Realidade

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Location: Portugal

Friday, March 23, 2007

Virtual Realidade Parte 78


Ao entrar no IRC, Rita viu imediatamente um nick conhecido a querer teclar com ela:
imagem ─ Olá, minha namoradinha virtual!
atiR ─ Olá!… és o… espera, Hugo?
imagem ─ Oh, estou profundamente triste!
atiR ─ Mas porquê, aconteceu-te alguma coisa?
imagem ─ Esqueceste o meu nome.
atiR ─ Triste só por isso?
imagem ─ E achas pouco?! Quer dizer que nunca mais pensaste em mim.
atiR ─ Mas eu lembrei-me do teu nome. Só perguntei para confirmar. E tu, lembras-te do meu?
imagem ─ És a Rita.
atiR ─ Vês, também esqueceste o meu.
Imagem ─ Não esqueci nada. Tu disseste que te chamavas Isabel, mas eu acho que és Rita.
atiR ─ Estás a chamar-me mentirosa?
imagem ─ De modo nenhum! Só que podias ter dito outro nome por defesa.
atiR ─ Quer dizer que te defendes desse modo?
imagem ─ Touché! Quem me manda meter com uma mulher inteligente?
atiR ─ Obrigada! Mas afinal qual é o teu nome?
Imagem ─ Se eu to disser também dizes o teu?
atiR ─ Claro que sim!
imagem ─ Rui.
Francisco, pois era dele que se tratava, conduzia estrategicamente a conversa para que Rita se revelasse primeiro do que ele próprio, mas ela mostrava-se à altura da inteligência dele, aparando-lhe o jogo e mantendo-se coerente.
atiR ─ Isabel.
imagem ─ És má! Assim vou mas é arranjar outra namorada virtual.
atiR ─ Má porquê?
imagem ─ porque eu disse-te o meu nome verdadeiro e tu não me disseste o teu.
atiR ─ Mas eu disse!
imagem ─ Então explica-me o que quer dizer o teu nick.
Rita hesitou. Nunca lhe tinha ocorrido que alguém pudesse interessar-se por saber o que significava atiR. E este era um contendor perigoso que sabia conduzir um diálogo no sentido de descobrir quem estava do outro lado da janela. Francisco notou a hesitação pela demora da resposta e insistiu:
imagem ─ Então?...
atiR ─ O quê?
Rita tentava ganhar tempo enquanto a explicação não surgia no seu espírito.
Imagem ─ Essa explicação…vem ou não vem?
atiR ─ Ah!
imagem ─ O teu nick é o teu nome lido da frente para trás. Acertei, não foi?
atiR ─ Acertaste pela metade.
imagem ─ Pela metade como?
atiR ─ atiR de facto é Rita, mas não é o meu nome; é o nome de uma boneca que eu tive em menina.
imagem ─ Ah! Ok. E já não és uma menina?
atiR ─ tenho 22 anos. E tu?
imagem ─ 26
atiR ─ Diz-me uma coisa…
imagem ─ Se eu souber…
atiR ─ Sabes sim! Porque é que eu devia ter voltado a pensar em ti? Alguma razão especial?
Imagem ─ No meu caso apenas razões especiais.
atiR ─ Tais como…
imagem ─ Ora…sou bom rapaz, lindo, educado, meigo, amoroso…queres mais?
atiR ─ E nada convencido!
imagem ─ Nada. Mas por acaso já fui, antes de ter tomado consciência daquilo que sou.
atiR ─ Estou a ver…
imagem ─ Se tiveres as mesmas qualidades que eu …! Tens?
atiR ─ Falta-me uma. Lamento muito!
imagem ─ Qual delas?
atiR ─ Falta-me ser bom rapaz.
imagem ─ Ainda bem! E quanto a rapariga…
atiR ─ Sou boa rapariga.
imagem ─ E tens as outras qualidades sem seres nada convencida?
atiR ─ Absolutamente.
imagem ─ Então agora que assentámos as bases podemos avançar para um grande amor?
atiR ─ Nada nos impede.
imagem ─ Um dia destes tenho de ir a Lisboa…
atiR ─ Ai tens?! Fazer o quê, pode-se saber?
imagem ─ Dar uma volta pela faculdade de medicina.
atiR ─ Não me encontrarias!
imagem ─ E quem te disse que te quereria encontrar?
atiR ─ Pensei; mas não poderias porque nunca me viste.
imagem ─ Pois… Mas tenho a tua imagem bem presente na minha memória
atiR ─ Não percebi…
imagem ─ É cá uma história…
atiR ─ Não queres contar, ok, mas fico intrigada.
imagem ─ Uma vez conheci uma rapariga, só a vi uma vez, e agora a imagem que guardei dela és tu.
atiR ─ E porque nunca mais a viste?
imagem ─ Porque ela desapareceu.
atiR ─ Oh! Era bonita?
imagem ─ E inteligente como tu.
atiR ─ Obrigada. Mas não sabes se sou bonita!
imagem ─ Tenho a certeza de que és.
atiR ─ Porque tens essa certeza?
imagem ─ Porque de outro modo não corresponderias à imagem dela.
atiR ─ Isso é muito lisonjeiro para mim! Lamento não possuir uma foto digitalizada para te enviar. E tu tens para eu ver com quem teclo?
imagem ─ Lamentavelmente, também não!

Rita não lhe tinha dito que, também ela, associava ao nick dele a imagem de um rapaz que tinha conhecido num comboio.
Sem que nenhum deles soubesse explicar porquê, ambos sentiam uma doce atracção, um pelo outro. No entanto, os dois suficientemente experientes em conversas pelo mIRC ─ sabiam muito bem até onde as palavras os poderiam levar e dominavam a arte dos chats on-line ─ não abdicavam do uso de prudência. E, quando ousavam ultrapassar os limites, E Rita não se mostrava menos competente que o seu curioso interlocutor. Talvez fosse esse nivelamento intelectual, actuando como íman de pólos opostos, que os começava a atrair, fazendo nascer uma curiosidade mútua pela pessoa que o outro era.
E um acesso de sinceridade ousou romper a barreira das defesas de Rita:
atiR ─ Sabes que és a primeira pessoa com quem gosto de falar aqui?
imagem ─ Não sabia! Mas, é curioso, eu estava a pensar em fazer-te precisamente essa pergunta!
atiR ─ Quer dizer que…
Francisco esperava a continuação da frase, mas ela não surgia.
Naquele momento a janela do MSN de Rita piscava: a mãe estava online.
imagem ─ Que…
atiR - atiR ─ Que gostamos de teclar um com o outro.
imagem - Puedo hablar solo por mi parte!
atiR - E yó por mi parte!
imagem - De acuerdo!
atiR - Hum!...Hablas castellano?
imagem - Hablo muy bien.
atiR - Un dia hablaremos de eso…
imagem - Cuando quieras! Hay tantas cosas que no sabemos el uno del otro…
atiR - Ahora me tengo que ir. Hasta la vista! Un beso.
imagem - Hasta la vista! Un beso

Continua...