Virtual Realidade

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Location: Portugal

Friday, June 23, 2006

Virtual Realidade Parte 41


Enquanto Luísa continuava em viagem por terras de Espanha, levando a filhota a caminho do futuro, futuro incerto como todos os futuros, mas repleto de esperanças razoavelmente sonhadas (aquele comboio ia cheio com os sonhos de muita gente, todos diferentes, mas que tinham em comum o desejo de vidas melhores, para os que partiam em trabalho, ou momentos melhores, para os que faziam turismo), Eduardo fazia a sua vida normal cada vez com mais saudades dos seus encontros virtuais com ela, desejando que tudo lhe corresse bem. De vez em quando recebia uma mensagem de Luísa, via telemóvel, na sua caixa de correio e ficava um pouco menos triste. Estava arrependido de não ter seguido com elas para lhes dar apoio. Agora a saudade originada por aquele distanciamento forçado deu-lhe a certeza de que amava aquela mulher, mesmo, coisa estranha, sem nunca a ter visto. Como era possível tal coisa? É verdade que lhe conhecia a alma muito antes de ver o rosto dela numa foto e ficava a pensar no extraordinário meio que era a Internet ao permitir um mundo enorme de possibilidades de comunicação.
Dificilmente, se se tivesse cruzado com Luísa numa rua ou a tivesse visto na esplanada de um café ou em outro lugar qualquer, teria iniciado com ela aqueles diálogos que os levaram a um conhecimento espiritual tão íntimo, e teriam continuado desconhecidos e indiferentes um ao outro.
E foi Luísa quem primeiro confiou e se entregou sentimentalmente. Eduardo foi muito mais prudente, mais seguro de si, mais reservado. Agora estava ali a sofrer de saudades sabendo finalmente que a amava e desejando ter largado tudo e seguido o seu coração.
Mas antes da partida ele não sabia, e foi precisamente essa partida que o levou a descobrir esse amor que jazia latente na sua alma.
O amor por vezes já existe dentro de nós sem o sabermos de todo e é por causa de uma circunstância estranha, que nada tem a ver com ele, não lhe deu origem, não faz parte dele nem lhe é absolutamente necessária, que tomamos consciência da sua existência, embora ele já influenciasse a nossa vida sem o termos notado.
Nesse dia Eduardo tinha acabado o trabalho mais cedo e, como se sentia preguiçoso para ir para casa cozinhar, resolveu jantar fora com uma colega de profissão.
Chegou a casa, atirou o casaco para cima de um sofá e foi ao quarto ver a fotografia da Luísa que tinha imprimido e emoldurado, em cima da mesinha de cabeceira; deu um beijo na fotografia e levou-a para ao pé do computador. Enquanto o Windows se iniciava foi ao jardim colher uma rosa que colocou num solitário com água junto da imagem de Luísa.
Precisava de encontrar o Rui para ter com ele aquela conversa que a Luísa lhe tinha pedido e também porque falar com pessoas no Mirc o deixava descontraído, embora por vezes travasse acesos debates sobre os mais variados assuntos.
Correu o Mirc e como não tinha ninguém na notify list entrou no canal Portugal.
Ficou a ver o canal com o olhar disperso e a certa altura reparou que alguém pedia ajuda para um texto em português. Com sempre costumava fazer quando alguém pedia ajuda, clicou no nick respectivo, anjo_selvagem e, depois de se abrir o pvt, perguntou:
─ Olá! De que se trata? Se eu souber ajudo-te.
─ Obrigada! Gostaria muito caso tenhas disponibilidade
─ Sim, diz….
Estiveram a tratar do caso; o texto era fácil de interpretar e pareceu ao Eduardo que a ajuda não era necessária e que aquilo era apenas um teste que alguém estava a efectuar para experimentar as pessoas no IRC. Não lhe foi difícil sair-se bem na interpretação que ia sendo confirmada pelo outro lado, como se já a conhecesse muito bem.
Quando acabaram Eduardo interrogou com um sorriso:
─ Olha uma pergunta, não entendi o teu pedido de ajuda. Estiveste a testar os meus dotes literários, foi?
─ Nunca se sabe! Mas não te preocupes, a tua ajuda foi preciosa. Deu para constatar que se encontram aqui pessoas que gostam de ajudar. Poucas mas algumas.
─ Sim, eu gosto de ajudar, mas não gosto de servir de cobaia.
─ Não te ofendas, não foi por mal. O meu nome é Sara e estou a escrever um livro sobre o IRC e o MSN.
─ Ai é?! Então depois, para eu te perdoar isto, vais ter de me enviar um exemplar assinado por ti. Ok? (sorriso)
─ Fica prometido!
Falaram ainda de diversos temas e o tempo passava rapidamente. Quando de repente o anjo_selvagem pergunta:
─ Achas que é possível uma pessoa entrar no computador de outra sem esta autorizar? Porque com autorização já deixei uma pessoa amiga entrar para me resolver um problema que eu não sabia.
─ Sim, é possível. Mas o que aconteceu?
─ Aconteceu-me uma coisa estranha há pouco. Alguém entrou no meu computador, leu os meus e-mails e outros textos e tem teclado comigo como se fosse um amigo que tenho de longa data. Falámos meia dúzias de vezes e a conversa dele era sempre no sentido de me engatar para ter sexo comigo. Como eu nunca lhe dei aviamento acabou por me dizer que tinha entrado no meu computador e que tinha descoberto coisas sobre mim que iam fazer com que eu me submetesse: ou ia para a cama com ele ou tinha de lhe pagar uma quantia em dinheiro. E de facto provou-me que tinha feito isso porque sabia de coisas que só eu conhecia e que tinha guardado no meu PC.
─ Estou a ver… Há sacanas capazes de tudo.
─ De início entrei em pânico, e pedi-lhe para me deixar em paz, mas depois reagi e dei-lhe uma lição; nunca mais se vai meter comigo!
E Sara contou tudo ao Eduardo.
─ Tens de te proteger com uma firewall. Andar na net sem firewall e/ou sem antivírus é como fazer sexo sem preservativo. (risos)
─ Pois, estou a ver que sim! (risos)
─ Mas o que te levou a fazer-me essas confidências todas?
─ As mulheres têm um sexto sentido; eu fui atrás do meu que me segredou que eras boa pessoa. Uma das coisas que gostei de ti foi seres bom ouvinte e teres um modo de falar que me deu confiança.
─ Obrigado.
─ Eu é que agradeço a tua simpatia.
─ O tal livro já vai adiantado?
─ Digamos que vai a meio.
─ E quando contas ter publicado?
─ Não tenho a certeza, mas espero que daqui a dois meses já esteja nas livrarias.
─ E vais fugir-me para não cumprires o prometido?
─ Não, acredita que não farei isso. Só se me acontecer algo de grave que não possa de todo.
─ Ok. Eu estava a brincar. Desejo-te muita inspiração!
─ Obrigada mais uma vez. A gente encontra-se por aqui; tenho de ir. Um beijo

─ Outro para ti.

Continua...